Era uma casa de loucos. Mulheres gritavam e desmaiavam, meninos vomitavam apenas por ver o sol nascer. Conversas desconexas, sentimentos trocados. Perda do sentido, da realidade. Mas afinal o que é a realidade? Ele pensava, via, ouvia, sonhava. Talvez todas essas coisas fossem reais. Inclusive toda a histeria que estava a sua volta. E se ele quisesse gritar também? Por motivos diferentes as pessoas fazem as mesmíssimas coisas.
Assim os dias passavam. A roupa escondendo as cicatrizes da pele e a pele escondendo as cicatrizes da alma. Todos as têm e ele sabia disso. Talvez por isso fascinava-se tanto, procurava tanto ver e entender cada ferida profunda, mesmo as mais bizarras. “O mundo está louco” dizem as pessoas por ai afora. E se a realidade fosse um grande delírio histérico? Seriam todos histéricos? Claro que pensava isso para aliviar sua penitência, pensava por projetar sua loucura no mundo, pensava porque este sempre fora o modo pelo qual concebia a realidade.
Ai está. A tal realidade... “Que foi?”. “Nada...” ele respondia. Mas uma vez havia transposto aquela fronteira entre o mundo compartilhado e o seu próprio, ou talvez pudesse dizer a realidade e a fantasia, mas não acabava de dizer que a “fantasia” fazia parte da “realidade”...?
Assim ele continuava.