sábado, 28 de abril de 2012

Coração de ferro e entranhas de bronze




Calmaria... Lentamente voltando ao pó. Lentamente.
Os ponteiros do relógio vão sessando sua frenética atividade.. Quando tempo entregue a loucura do movimento, da inquietude. Sinais compulsivos de um cardiograma, taquipineia, as entranhas se contorcendo. Reações neurovegetativas frente a fantasmas, torpes criações do inconsciente. Quanto tempo perdido. 
Em breves momentos flertava com Thanatos. Não querendo o fim, mas o silêncio, as leves ondas de uma noite de outono. Sabe-se que Hipnos é irmão de Thanatos e isso talvez explique o fato de que um seja o prelúdio do outro. O fato é que ambos, paradoxalmente, salvam aqueles que nunca cessão, aqueles cujo corpo e a mente sofrem o mesmo mal do relógio. Porém, o relógio é apenas uma máquina passiva, que assim como todos nós, está submetido ao tempo. 
Dizem que o tempo é cíclico e pendular e não seria eu alguém para contestar, mas algo deve ser apontado. É cíclico para o todo, é cíclico quando se olha a humanidade, períodos históricos, e quanto ao sujeito singular? Pode-se dizer que este, submetido ao tempo, nasce, cresce, morre, nasce de novo e o ciclo se repete? Novamente, muitos podem dizer que sim, mas as justificativas simplificariam algo por demais complexo.
O fato é que o homem surge em um momento e acaba em outro. Nada tem mais força que o tempo. Ele empurra a vida, ou poderia dizer, encurta a vida, ou melhor ainda, ele dita a vida, sua quantidade e qualidade. Quando dissemos daquele que vive na agonia - que os neurologistas chamam de Luta e Fuga - é possível ver como o tempo atua qualitativamente. Kairós, agora, é o melhor e o pior inimigo, pois o tempo passa na mesma velocidade, sempre, mas porque alguns o sentem tão rápido, tão violento e destruidor? Como alguém tão cansado poder sentir seu corpo trabalhar tão rápido? E ainda se houvesse um bom motivo.
Felizmente e infelizmente os mestres nos ensinaram que na realidade esse motivo é sempre um bom motivo, apesar do conteúdo ideacional parecer patético e banal.
Eles também nos ensinaram que Thanatos se impõe sobre Eros (como Eros também se impõe a Thanatos, também de forma cíclica e pendular). Toda a energia e o movimento para a vida, para atividade, de um lado. Do outro o desligamento, a calma, um convite à morte. Convite esse latente, talvez o manifesto é o pedido desesperado por paz, por tranquilidade. Seria muito ruim viver em uma atividade frenética constante... Muito ruim.
Estava ele de novo olhando o relógio em seu pulso, maldizendo o tempo que acelera seu corpo e seus pensamentos. Imaginava o teatro em que os deuses mitológicos atuavam, cada um seu papel, em seu ato, eu seu tempo. Pensava como todos eles, real e simbolicamente, estão submetidos à Cronos, o grande pai, a grande Lei.