Calmaria... Lentamente
voltando ao pó. Lentamente.
Os ponteiros do relógio vão
sessando sua frenética atividade.. Quando tempo entregue a loucura do movimento,
da inquietude. Sinais compulsivos de um cardiograma, taquipineia, as entranhas se
contorcendo. Reações neurovegetativas frente a fantasmas, torpes criações do inconsciente.
Quanto tempo perdido.
Em breves momentos flertava com Thanatos. Não
querendo o fim, mas o silêncio, as leves ondas de uma noite de outono. Sabe-se
que Hipnos é irmão de Thanatos e isso talvez explique o fato de que um seja o prelúdio
do outro. O fato é que ambos, paradoxalmente, salvam aqueles que nunca cessão,
aqueles cujo corpo e a mente sofrem o mesmo mal do relógio. Porém, o relógio é
apenas uma máquina passiva, que assim como todos nós, está submetido ao tempo.
Dizem
que o tempo é cíclico e pendular e não seria eu alguém para contestar, mas algo deve ser
apontado. É cíclico para o todo, é cíclico quando se olha a humanidade,
períodos históricos, e quanto ao sujeito singular? Pode-se dizer que este,
submetido ao tempo, nasce, cresce, morre, nasce de novo e o ciclo se repete?
Novamente, muitos podem dizer que sim, mas as justificativas simplificariam
algo por demais complexo.
O fato é que o homem surge em um
momento e acaba em outro. Nada tem mais força que o tempo. Ele empurra a vida,
ou poderia dizer, encurta a vida, ou melhor ainda, ele dita a vida, sua
quantidade e qualidade. Quando dissemos daquele que vive na
agonia - que os neurologistas chamam de Luta e Fuga - é possível ver como o tempo
atua qualitativamente. Kairós, agora, é o melhor e o pior inimigo, pois o tempo
passa na mesma velocidade, sempre, mas porque alguns o sentem tão rápido, tão
violento e destruidor? Como alguém tão cansado poder sentir seu corpo trabalhar
tão rápido? E ainda se houvesse um bom motivo.
Felizmente e infelizmente os
mestres nos ensinaram que na realidade esse motivo é sempre um bom motivo,
apesar do conteúdo ideacional parecer patético e banal.
Eles também nos ensinaram que
Thanatos se impõe sobre Eros (como Eros também se impõe a Thanatos, também de
forma cíclica e pendular). Toda a energia e o movimento para a vida, para
atividade, de um lado. Do outro o desligamento, a calma, um convite à morte. Convite
esse latente, talvez o manifesto é o pedido desesperado por paz, por
tranquilidade. Seria muito ruim viver em uma atividade frenética constante...
Muito ruim.
Estava ele de novo olhando o
relógio em seu pulso, maldizendo o tempo que acelera seu corpo e seus
pensamentos. Imaginava o teatro em que os deuses mitológicos atuavam, cada um seu
papel, em seu ato, eu seu tempo. Pensava como todos eles, real e simbolicamente,
estão submetidos à Cronos, o grande pai, a grande Lei.
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