domingo, 25 de agosto de 2024

Chame-me pelo meu nome

     Era um fato inegável: havia me apaixonado por uma bruxa. Percorria meus dedos por seu rosto enquanto constatava a verdade de meu coração. A pequena cabana em Donnelaith havia se tornado nosso refúgio e nem mesmo o frio escocês era capaz de abrandar a chama do meu desejo. Ainda conseguia ouvi-la proferir as palavras que contornaram as pedras e sacodiram as copas das árvores. Ainda podia sentir como era estar pela primeira vez em sua presença e como os olhos da pequena Deborah me olhavam com curiosidade. 

     Acompanhar seus dias se tornou minha função ou, para ser mais preciso, minha satisfação, minha discreta obsessão. A gratidão de cada um daqueles que curava era a mesma que a minha em vê-la curar. No entanto, foi quando senti seus lábios nos meus que estes pensamentos então se tornaram distantes. A tecitura temporal se distorcia nesses momentos, o que talvez se devesse ao fato de minha materialidade recém-adquirida neste mundo. Ainda havia muito a compreender, mas tinha certeza: eu amava Suzanne de May Fair. 

     Enquanto ela acariciava meu cabelo, sentia sua pele maliciosamente perfumada de unguento floral. Seu beijo, cada vez mais voraz, disfarçava um sorriso travesso que jamais me passaria desapercebido, nem mesmo em uma ocasião como essa. Me entreguei aos seus braços, repousando meu corpo sobre o dela. Amamo-nos enquanto ouvíamos o ranger das árvores que se curvavam do lado de fora da cabana. O burburinho local dizia que os ventos estavam incomuns ultimamente e nem mesmo os velhos carvalhos eram capazes de suportar tamanha força. Contudo, nada se compara à força das palavras que ouviria naquela noite, da bruxa de Donnelaith, sussurradas no ouvido: meu Lasher... Por uma fração de segundo pude admirar sua diabólica beleza e então perdi os sentidos.


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