Meu pequeno príncipe, se assustaria ao ver como os adultos agora cultuam as palavras tanto quanto os números. Não se animaria ao ver como estão apegados a elas, como parecem depender delas. Usam as palavras sem o menor cuidado, como se vestissem meias que não são suas para se proteger do frio. Meu pequeno príncipe, antes usassem as palavras para perguntar, como tão docemente lembro de te ver fazendo, mas tudo o que conseguem é pegar uma palavra aqui e outra lá e usar. Usam como coisas, usam como se usa um quebra-nozes sem saber exatamente para que serve. Esses dias ouvi uma pessoa dizer que era um avestruz, mas ela não se empavoava e nem tinha penas. Ainda assim estufava o peito, franzia a testa e insistia: "sou um avestruz". Aceitei que estava diante de um avestruz e arrisquei perguntar seus pratos favoritos e onde gostava de dormir. No entanto, sua resposta foi a mesma: "sou um avestruz". Me incomodo, meu pequeno principe, e tenho saudades de ouvir sua voz determinada a entender tudo. Queria desenhar interrogações em todas as palavras que ouço, ser um pintor renascentista com pincéis de todos os tamanhos. Pintaria interrogações nas frases bonitas, nas palavrinhas ditas de manhã e nos grandes volumes da estante da livraria. Muito tempo passou, meu pequeno príncipe, e os adultos continuam assim, sem saber a importância das coisas. Realmente sinto falta dos seus cabelos louros balançando ao sabor do vento enquanto via seus olhos brilharem. Hoje, olhando para as estrelas, sua presença continua me fazendo pensar.
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