sábado, 15 de outubro de 2011

Um caso de horda

Um grupo de homens se reúne em volta do fogo. A maioria deles dança e urra enquanto os outros apenas observam. Em seus rostos a tinta vermelha faz desenhos que marcam a tribo. Os homens que dançam se movimentam firmemente dançando em volta do fogo. Em suas mãos estão lanças que apontam para o céu enquanto bradam gritos ferozes. A chama confunde o olhar dos que observam. Quietos e compenetrados permanecem sentados. Horas passam e a fumaça atinge o azul escuro do céu. Um dos que dançavam começou a olhar o fogo e em seu corpo começam a sair espinhos e sua pele se torna grossa ganhando uma tonalidade marrom. Outro ao seu lado começa a se contorcer, de suas costas saem asas. Olhando para o céu ele sobe o mais alto que pode. Um dos que estavam sentados começa a se desintegrar em partículas de terra. O homem na outra extremidade do fogo vê seus pensamentos flutuando para fora de sua cabeça e entrando na cabeça dos demais da tribo. Ele logo se levanta tentando puxá-los de volta, mas é em vão. Os que estavam com lanças em punho começam a se atacar. Os que não as tinham atacavam com patadas e grunhidos. Em pouco tempo os homens foram caindo. Não era mais a tinta que pintava seus corpos de vermelho. Um último que havia matado três de seus irmãos observou cipós saindo das árvores, se enrolando nos corpos e puxando-os para dentro de si. O homem dos espinhos se fundiu com a árvore, o das asas não mais voltou das nuvens e o terceiro se desintegrou com a terra se tornando parte dela. Tentando pegar de volta seus pensamentos o último homem cai nas chamas e lá seu corpo permanece. Aquele que havia restado contempla que foi o único que sobreviveu. Este então começa a olhar a sua volta. Estava só e havia contribuído para isso. Sabia que era responsável por tudo que havia acontecido. Com um grito feroz retoma sua lança e sai pela mata. Havia satisfação, realização, mas não culpa. Sem a Lei não há sofrimento, conflito ou arrependimento. Há apenas o desprazer e o prazer da onipotência humana.

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