Como descobrir algo que não é definido claramente? Como por exemplo, o X nessa pequena equação: 2x + 2 = 8.
Primeiramente é preciso considerar todos os elementos a sua volta. Se tentarmos entender X separadamente não chegaremos a nenhum resultado, o X isolado será sempre X, continuando uma incógnita. O próximo passo é observar cada elemento da equação: o que acompanha o X e o que está em volta do X, estabelecendo as relações existentes entre ambos.
Aqui a matemática toma a frente e nos diz o caminho para encontrar o que afinal é o X desta equação: Separamos 2X = 8 – 2, estabelecendo as relações, reduzimos à 2X = 6. Quando o resultado se aproxima de poucos elementos, sendo estes essenciais, é preciso uma atitude radical, em que o X deve ser separado e igualado aos elementos anteriormente relacionados, temos assim: X = 6/2, chegando ao resultado X = 3. Eis a verdadeira face do que se ocultava, mais do que isso, a matéria primeira, a peça que encaixa no quebra-cabeça e da sentido a algo que antes não se entendia.
Me refiro à verdadeira face de algo oculto pelo simples fato de que existem outras equações em que X = 3, porém apresentadas de forma diferente, que a primeira vista não é possível notar que se trata do mesmo X. Por exemplo, a equação 3X +1 = 10. Utilizando o mesmo processo temos 3X = 10 – 1, 3X = 9, X = 9/3 e X = 3. Ou um equação simplificada como: X – 2 = 1, X = 1 + 2 e X = 3.
Esses são apenas alguns dos inumeráveis exemplos de como X = 3 toma diferentes formas e está em diferentes contextos. Assim, para encontrar o X, a incógnita, aquilo que escapa a compreensão, a decomposição dos fatores ou análise se assim quiserem chamar, se faz necessária. Primeiro por revelar o que não nos é claramente definido e segundo por fornecer uma explicação, um sentido para esse algo sem explicação inicial estar presente dentro de uma equação. Por último, evita rótulos e explicações a partir de ideias pré-concebidas e falsos julgamentos. Uma criança que não seja ainda capaz de resolver equações desta natureza ao se deparar com o problema pode “chutar” um resultado: X = 5 ou X tem que ser somado com o número 2. Atribuindo valores para X que não conferem com o seu valor dentro dessa equação e interpretando erroneamente a função que X possui no todo da equação.
Com os devidos cuidados podemos transpor esse modelo para atos humanos: Como descobrir o que é um ato não compreendido, não claramente definido pela cognição? Como por exemplo, uma mulher estar brincando com uma boneca? Se considerarmos o que acompanha essa mulher, como sua linguagem, vestimenta, objetos e os elementos a sua volta como o jardim, as árvores, a memória existente destes, o sol, o horário, o dia. Estabelecermos relações, realizar articulações e por fim confrontar os elementos mais essenciais, chegaremos a um resultado. Porém sem esquecer que se trata do resultado desta equação, deste contexto, que se colocou deste modo, com esses elementos. Dependendo do nível e do número das equações podemos ter um entendimento datado, preso em um contexto, mas com alguma sorte poderá se perceber que muitas equações são apenas diferentes articulações do mesmo resultado X = 3, outras tantas do resultado X = 1, havendo algumas repetições que ocorrem seguidamente. A transposição do resultado de diferentes equações de diferentes números para diferentes contextos e diferentes atos fica a cargo das teorias psicanalíticas.
Como disse inicialmente, o que é escrito aqui não tem comprometimento estrito com o campo teórico, trata-se apenas de devaneios de alguém que admira a beleza poética dos saberes da mente. Porém, isso não significa que não haja certo nível, às vezes maior, outras vezes menor, de congruência com a literatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário