Prédios e automóveis; o vapor das usinas criando uma névoa que torna o ar denso. O monocromático do meio urbano envolve a vida de muitos indivíduos que se locomovem incessantemente pelo caos da vida moderna.
Um desses indivíduos acorda pela manhã, o despertador o avisa que precisa estar em seu emprego dali duas horas. Ele pega seu celular e pede para sua colega de trabalho ir adiantando o serviço do dia. Outro telefonema para seu chefe que estava em Boston viajando a negócios. Ele levanta e prepara algo para comer. O micro-ondas, em alguns minutos, lhe proporciona alimento que é logo ingerido, pois o relógio avisa que dali uma hora e meia precisa estar em seu emprego. Ele sai de casa, olha para o céu e coloca seu óculos escuro para proteger seus olhos da claridade daquele dia. E assim segue para a empresa.
As duas quadras que separavam sua casa e a empresa eram repletas de veículos grandes e pequenos que transitam pela rua, pessoas que fazem seus percursos a pé, pela calçada, andando, correndo, sons de motores, conversas, buzinas, máquinas. O dito indivíduo sobe uma rua andando pela calçada. As vitrines das várias lojas chamam sua atenção, porém os diversos barulhos competem fazendo com que ele olhe rapidamente para vários lados alternadamente, às vezes até fazendo com que se confunda com o caminho que está seguindo.
Uma nova consulta ao relógio: faltava vinte minutos. Porém, algo de estranho com seu relógio, o visor estava colado em seu braço sem a pulseira. Ele olha, demorando um pouco para entender o que estava vendo. Tenta tirar, mas não estava só colado, havia se fundido a seu braço. Se desespera, precisava tirar e não podia se atrasar. Coloca mais força e nada acontece. Ele olha em volta buscando algo e se depara com um pé de cabra. Tenta pega-lo sem êxito, então percebe que a ferramenta fazia parte de seu braço. O desespero é ainda maior. Olhando para seu braço, para o relógio, ele começa a sentir algo estranho em seu corpo. Sentia seu peito roncar e ouvia um som de motor. Sua orelha esquerda emitia sons de celular e ouvia-se vozes de pessoas falando dentro de sua cabeça. Suas pernas começaram a se encolher e tomar forma de pneus de carro. Ele fica tonto, as coisas a sua volta se tornam digitais, as imagens são de uma página de computador com objetos em 3D. Seus óculos caem e de seus olhos crescem binóculos. Ele olha a frente e enxerga o prédio da empresa que estava ainda muito distante. Tenta ir para frente, mas o pneu esquerdo avança mais do que o direito e ele cai no chão. O outro braço começa a ficar cinza, frio, toma a forma de uma arma. Ele olha com maior nível de desespero, em pânico. Experimenta mexer este braço e consegue move-lo em direção à própria cabeça, mirando o cano da arma diretamente.
Um grupo de pessoas observa o homem se debater no chão, gritando e se contorcendo, mirando o dedo indicador para a cabeça, ninguém poderia entender o sofrimento pelo qual ele estava passando.
A civilização controlou o fogo e colocou a seu serviço, aprendeu a estar em vários lugares ao mesmo tempo, a ver e ouvir além do que a capacidade biológica lhe permite, venceu a própria deterioração e falha do corpo, venceu a natureza e armazenou uma quantidade ínfima de informações jamais obtidas antes. É onipresente, onisciente e quase onipotente. Mas o que seria deste “Deus” sem as próteses que criou para se assemelhar a Deus?
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