quarta-feira, 6 de julho de 2022

ELaboração

 




Dois elfos digladiam-se em meio a um vasto campo de batalha.

Movimentos rápidos e precisos. Saltos, piruetas...

Um voo rasante e o elfo mais velho acerta o outro que cai no chão.

Sua recuperação é rápida e a ponta de uma flecha caída ao seu lado serve de arma para uma investida feroz.

Punhos se trocam, se tocam e o cansaço diminui o ritmo da batalha.

Em um momento decisivo o mais novo começa a rir, desconcertando o outro.

-Por que faz isso, elfo?

-Eu não sei.

O elfo mais velho sai da posição de ataque e ambos pousam sob um escudo enferrujado.

O sol do meio dia é impiedoso e distorce o solo arenoso.

O elfo mais novo se deita sobre o escudo:

-Sabe, eu realmente não entendo essa guerra...

-Qual delas? A deles ou a nossa?

-Tanto faz, a guerra... Eu não sei, não deveria nem estar aqui.

-É fácil pra você falar, você não sabe como minha família é rígida com essa história de guerras...

-É... mas, sabe, de alguma forma eu... entendo... que te peguei desprevenido! Enquanto completava a frase jogou um punhado de poeira do escudo contra os olhos do elfo mais velho iniciando novo ataque.

-Você joga sujo! Disse o elfo enquanto tentava se defender. Por que você faz isso?

Enquanto desferia novos golpes, o elfo mais novo assumia uma fisionomia lúdica, quase infantil. Seus olhos, muito redondos, brilhavam, e um sorriso de malícia agora tomava conta de seu rosto.

Com um salto pra trás o mais velho pôde se proteger ao lado de um elmo. Rapidamente sumiu por detrás da velha armadura e então reapareceu, inesperadamente, acertando o outro elfo na cabeça.

-Isso doeu! Exclamou ele.

Enquanto isso, o elfo mais velho ia assumindo sua pose de vitória e, como um sinal de sua nobreza, logo estendeu à mão ao parceiro de combate. Este, por vez, recusou:

-Isso não é justo!

-O contra-ataque ou meu gesto de boa-fé?

-Tanto faz! Disse em tom jocoso. Por que você faz isso?

Nesse breve momento uma brisa passou por entre ambos e um aroma de flores chegou ao íntimo de suas mentes.

-Você sentiu isso?

-Isso, o que?

-Isso, sente... Disse o elfo mais velho franzindo o nariz. São girassóis, reconheceria em qualquer lugar.

O outro elfo se levantou e limpou as vestes há muito gastas devido à luta. Suas asas começaram a bater rapidamente.

-Onde você vai? Exclamou o elfo mais velho. O aroma te suscitou algo?

-Não é isso... Eu só, tenho que ir. Eu disse, não deveria estar aqui... Suas pequenas asas acinzentadas se abriam e fechavam em um ritmo hipnótico e o sorriso havia deixado seu rosto.

-Mas por quê? Retrucou novamente.

-Tenho muito a fazer... Neste momento seus olhos miravam o horizonte e então prosseguiu: É inútil... E antes que me pergunte por que já lhe respondo: É inútil porque uma luta cessa hoje e outra recomeça amanhã. Veja todos estes corpos, seria esse nosso fim?

-Não, não é, não seria e não foi.

-Você fala do tempo como se pudesse entendê-lo.

-Acha que não entendo? Dessa vez eram as asas do elfo mais velho que começavam a bater. Como uma mariposa, suas asas azuladas formavam um desenho ao se abrir, talvez um rosto sorridente ou um mostro aterrorizante, quem saberá dizer... E então voltavam a se fechar.

-Acho que você ficou tempo demais debaixo desse sol. Respondeu.

Ambos estavam preparados para voar e o elfo mais velho perguntou:

-Você não gosta do calor do sol?

-Ele me cega, distorce o espaço e o tempo... O tempo... É isso! Deu um sobressalto e seus olhos se arregalaram: Eu finalmente entendi o porquê.

De súbito suas pernas impulsionaram o voo, deixando um rastro acinzentado.

O elfo mais velho então gritou com a potência de quem tenta alcançar a altura das nuvens apenas com a força dos pulmões: onde você vai?

-Há muito que eu tenho que fazer. Porém havia dito em voz baixa, apenas para si, talvez não tivesse ar suficiente para projetar sua voz até o solo.

Enquanto voava veloz, uma mancha azul anil era vista em meio a uma de suas asas acinzentadas.

domingo, 20 de setembro de 2020

Quilômetros por hora


Você ligou o carro e tocou minha mão,

As malas ficaram em casa, esqueci.

Tudo que estava aqui começou a desaparecer.

Todo início parte de um "não"...


Estava eu no lugar do passageiro,

Você dirigia rápido,

E a viagem ao redor da lua durou 60 dias

Através da janela eu via o mundo inteiro:


Criança brincavam no parque, amigos a se encontrar,

Famílias emaranhadas em seus próprios nós...

Assim como eu, passageiro,

Tudo podia ver, mas nada podia ficar


Talvez precisasse descansar, talvez tivesse pressa.

Toda viagem parte de um "não"... Assim uma nova se inicia

Sigo rumo a terra prometida,

Logo eu que conheço o teor das promessas...

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Thule




Era um labirinto sem fim, ultima Thule.
Nele eu nasci, cresci, vagando por suas ruas, esgueirando pelos cruzamentos.
Crescido, acostumei com uma dúzia das mesmas paredes,
Estabeleci, para mim, um lugar conhecido.
Com o tempo o conhecido se tornou único, o labirinto se tornou caminho,
As paredes um abrigo. Encerrado nestas paredes, encontrei o fim.

Não era mais um labirinto, muito menos "sem fim", tudo se tornou conhecido.
Não mais vagava, mas andava firme. Passei a numerar as paredes, cada uma com um significado muito próprio. A 2 era o lugar do repouso, a 5 do lazer.
O corredor 4 levava à entrada e o 3 à saída.
Com o tempo experimentava certa alegria.
As paredes se tornaram uma casa. Vivendo nestas paredes, encontrei o fim.

Era um dia comum, passeava por minha morada, já não precisava mais prestar atenção por onde andava.
Distraído, tropecei em um pensamento, me deparei com um cruzamento.
Avancei, não era a 6 ou a 2. Comecei a vagar, rua após rua.
Era um labirinto sem fim, como poderia ter esquecido?
As paredes se tornaram partes das ruas, nada mais conhecido, não havia mais começo, não havia mais fim.

Era um labirinto sem fim, ultima Thule.
Nele eu nasci, cresci, vagando por suas ruas, esgueirando pelos cruzamentos.
Crescido, acostumei com uma dúzia das mesmas paredes,
Estabeleci, para mim, um lugar conhecido.
Com o tempo o conhecido se tornou único, o labirinto se tornou caminho,
As paredes um abrigo. Encerrado nestas paredes, encontrei o fim...

terça-feira, 24 de julho de 2018

Das Meer


No escuro dos olhos, um lampejo.
Como uma tempestade, brilha no céu um raio intenso.
A boca molhada pelo beijo.
Destes mesmos olhos que dormiam no tempo,
Desperta a fagulha de um desejo.

A chuva ainda cai, a água leva os sentimentos,
Não mais saberia da aridez,
Não mais veria a solidão e seus rebentos.
Desperto mais uma vez.

E na loucura deste enredo,
Custo a acreditar que neste breve segundo,
Depois de tantos anos em segredo,
Ainda caio nas armadilhas deste coração moribundo.
Mas o que seria da alegria se não fosse o medo...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Colecionava livros e não histórias


Algumas horas se passaram enquanto alinhava e desalinhava seus livros. Estantes inteiras. Grandes, pequenos, de várias línguas, credos e estados.
Um deles caiu no chão, sua capa dura se abriu expondo páginas amareladas pelo tempo. Deu um grito súbito e saltou para trás, gritou mais uma vez... Assustado, logo o fechou e pôs de volta em seu lugar. Respirava ofegante, rapidamente.
Eram tantas letras, palavras, sentenças – sentenças? Como poderiam aqueles blocos empoeirados repletos de rabiscos significarem alguma coisa... São apenas riscos ordenados – ordenados. Encontrava-se agora sentado no chão golpeando a cabeça.
Encontrava-se.
Parou por um instante e olhou em volta. Olhou os livros, verificando como havia os organizado, dispondo-os em uma ordem que fazia sentido. Sentido? Disso sabia dizer, pois angústia havia sentido. Levantou, pegou uma folha do caderno sobre a mesa, uma caneta e mais uma vez usou o chão de apoio. Deitado começou a marcar rabiscos ordenados no papel – ainda branco, novo. Rabiscos diversos, alguns parecidos com os que estavam na capa dos livros. Marcou no centro da folha, na parte superior, um conjunto de rabiscos e disse em voz alta:
Encontrava-se.
Assim, ele prosseguiu, marcou a folha toda e depois outra e outra. Ele rolou pelo chão, absorto em suas palavras, suas sentenças ordenadas. Era a primeira história que ele entrava em contato. Era a sua história.

Wrong


Apenas para constar: por algum motivo o HORÁRIO das publicações está sempre errado. O tempo da página está errado. Por que o tempo está errado?

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Isso (Es/Ça) virou poesia


Onde ficaram aqueles dias?
Posso ouvir o som, ver os sorrisos, mas há uma mancha no céu.
Porque desta forma? Porque antes?

As flores agora choram,
Os lábios choram, as letras choram.
Onde estava?

Onde estão aqueles dias?
Deixei em algum lugar, esqueci.
Como o tic tac do relógio...

A memória esquece e lembra,
Esquece e lembra,
Esquece e lembra.

Lembrar traz aqueles dias de volta.
Recordações são mentiras,
Mentiras das mais preciosas.

Como este texto, irá sumir,
Mas ficará na memória,
Como um fim, fim, fim, fim, fim. (tic) (tic) (tic) (tic)


...Começo (tac)